18 dezembro, 2014

Francisco Louçã escreve e com razão


A imprensa populista e a calúnia: um caso de estudo


Christian Wulff foi eleito Presidente da Alemanha em 2010 e demitiu-se em 2012, a meio do seu mandato. A história érecapitulada na sua autobiografia, sob o título curioso de At the Top, At the Bottom, o que em português talvez desse uma coisa do tipo “quanto mais alto se sobe mais se cai”. A história conta-se em poucas linhas: Wulff, um homem de direita, democrata-cristão, escolhido por Merkel (a eleição presidencial na Alemanha é feita pelo parlamento) foi massacrado pela imprensa tablóide e, não resistindo, escolheu a demissão. O Bild e outros jornais populistas, mas também o mais apessoado Der Spiegel, foram os autores da façanha.

As perguntas eram estas: quem pagou uma conta de 140 euros num restaurante no festival de Munique e mais 770 euros do hotel? A insinuação é que a conta teria sido paga por David Groenewold, um produtor de cinema, porventura a troco de favores suspeitos. Depois de vários artigos sobre o assunto, escritos sob a insistência feroz de Kai Diekmann, o editor do Bild, o Ministério Público decidiu abrir uma investigação por corrupção. Para isso, pediu o levantamento da imunidade do Presidente, com o cuidado de dar a notícia em primeira mão ao jornal. Wulff demitiu-se imediatamente.

Dois anos depois, a investigação tinha mobilizado 24 agentes que escrutinaram 45 contas bancárias, revolveram 5 terabytes de dados, escutaram 37 telefones e fizeram buscas em 8 casas. Tudo isto custou 5 milhões de euros. No fim, o juiz declarou que Wulff era inocente e o Ministério Público renunciou a apresentar qualquer recurso. Como disse então um dos adversários políticos de Wulff, a perseguição movida por aquela imprensa foi um instrumento de tortura.

Quanto mais se sobe, de mais alto se cai? Wulff caiu, aparentemente sem saber porquê. No entanto, o jornal que motivou o escândalo e os que o acompanharam não sofreram qualquer consequência, mesmo que a vida política do presidente tivesse terminado. Pelo contrário, a impunidade facilitou ou até estimulou a perseguição, porque as vendas foram confortáveis durante a novela. Assunto encerrado.

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